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O Homem nasce livre, mas em todo o lado está acorrentado

Nos últimos tempos tem-me afligido o espírito, a frase que dá o título a este artigo de opinião, tradução livre da articulação de Jean-Jacques Rosseau, na sua obra “O Contrato Social” de 1762.

Se por um lado todos percebemos a afirmação da liberdade no nascimento, pese embora a total dependência dos nossos progenitores, a segunda parte da afirmação levanta algumas dúvidas na nossa mente.

Pessoalmente, compreendo a afirmação de Rousseau. De facto, sempre me afligiu esta democracia imperfeita que é a democracia representativa em que os eleitos fazem uma interpretação, muitas vezes de grande amplitude, do mandato que lhes é concedido pelos cidadãos eleitores.

É um facto amplamente reconhecido que na última década e meia, impelidos pelo seu próprio poder político e económico, bem como pela diminuição da pressão das democracias, autocratas e candidatos a autocratas, criaram um ambiente internacional mais favorável para si mesmos, criando as suas próprias interpretações da soberania estatal, esforçando-se para permitir que os governos incumbentes ajam como quiserem, sem supervisão ou consequências.

Localmente (o maior terreno da disputa política concentra-se muitas vezes em questões locais e regionais), os políticos, inspirados por estes movimentos, procuram seguir-lhes as pisadas, fazendo uso das regras de funcionamento do estado em seu proveito, retirando aos cidadãos a possibilidade de funcionar como agentes fiscalizadores da actividade pública.

Muitos, manipulam informações para moldar a percepção pública e, de forma exacerbada, afirmam o seu compromisso em resolver os problemas das suas comunidades apenas para ganhar o apoio dos eleitores.

Distorcem factos para criar uma narrativa específica e fazem promessas eleitorais que sabem não cumprirão, visando ganhar votos. Não hesitam em privilegiar interesses ocultos e utilizar o medo e a insegurança para manipular eleitores, exagerando ameaças ou criando inimigos fictícios.

Apelam às emoções dos eleitores, usando retórica inflamatória ou criando uma imagem carismática, procuram dividir a sociedade para enfraquecer a oposição e consolidar o poder e exercem controlo e influência sobre os media para promover sua agenda e suprimir informações desfavoráveis.

Se, por um lado, o indivíduo é base para a construção do Estado e a sua participação na edificação do Estado também lhe dá as condições para melhor usufruir da vida, dos seus bens e da sua liberdade, por outro lado, o estado e os políticos, retiram-lhe parte dos seus meios e constrangem-no na acção, coartando as suas amplitudes mais extremas.

No entanto, papel do cidadão, continua a ser de extrema importância, analisando as propostas apresentadas pelos políticos de forma cuidada e exercendo o seu direito ao voto criteriosamente pois, mesmo nas democracias, o direito ao voto é, talvez o único que verdadeiramente nos assiste!

Texto de opinião publicado na edição imprensa de 25 de outubro de 2024

Pedro Ferreira

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