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“Duas coisas apenas anseia o povo: pão e circo”

Num mundo cada vez mais impessoal e distante o ser humano encontra as mais variadas razões para uma vida mais centrada no indivíduo do que na comunidade.
O exercício de vitalidade e de “movida”, de alegria, comunhão social não pode nem deve ter uma visão redutora a algumas semanas de Verão e algumas semanas de Final de Ano.
Assim, urge repensar os espaços urbanos de uma forma que convide ao convívio, usufruto de espaços verdes, água (corredia ou em espelho), sombras, oferta de instalações sanitárias e de restauração a condizer.
Repensar pode passar por NÃO VENDER! Não vender os nossos espaços públicos à propriedade intelectual de arquitectos de renome em troca de uma placa com o nome do dito se depois não se podem fazer melhoramentos ou adaptações à realidade. É uma desolação ver a “Praça das Artes” (e futuramente o espaço em frente ao “Grémio da Lavoura”?) com as pedras do chão muito partidas, levantadas e até móveis que podem levar a quedas e traumatismos complicados nalgum transeunte mais incauto. Quem desenhou equacionou que seria por ali que haveriam um dia de passar camiões de cargas e descargas? Alguém preparou o chão de modo a receber tráfego pesado? E as sarjetas são agora trocadas por tábuas de madeira? Para não mencionar os fenómenos naturais no parque subterrâneo que são aquelas belíssimas estalactites… e qualquer dia estalagmites?
E os espelhos de água que nada mais são do que despejos de lixo, resíduos e águas pluviais?
Nem as pombas gostam…
Andar de bicicleta ou de patins, ou até chutar uma bola com a pequenada é impossível na gravilha.
Não compro! Se eu fosse um empresário da restauração e pretendesse “comprar” o direito a explorar um espaço de restauração por concessão nesta praça prontamente diria: “não compro”! Compraria se pudesse explorar todo o ano com condições de reaver o meu investimento. Não faz sentido uma praça deste tamanho, num local privilegiado, com parque de estacionamento subterrâneo, só ser usada 3 ou 4 vezes no ano…
É um dos locais considerados “centro da cidade” e é ao mesmo tempo um centro de desconexão entre o desenho e a realidade.
As benfeitorias custam dinheiro, mas todos nós fazemos escolhas na gestão das nossas famílias e gerimos o nosso orçamento família em função da exequibilidade dos objetivos. Assim, eu preferiria abdicar de investir em estátuas que não trazem visitantes, e outras obras arquitetónicas por muito valor e importância que tenham tido no passado (muitos poderão nem saber o que significam os arcos brancos e um preto dos “Carvalhinhos”) quando esses monumentos não acrescentam valor à população. Investir em obras que sejam ponto de encontro, sim! Seria preferível fazer benfeitorias e tornar a Praça das Artes num icónico centro de convívio e encontro TODO o ano, com várias soluções de restauração, instalações sanitárias adequadas, acessibilidade para todos (sem pedras partidas ou levantadas), caixa de areia para futebol de praia ou vólei. E sombras! Tem de haver sombras num clima que apresenta cada vez mais temperaturas asfixiantes!
Em vez de eventos fugazes, urge repensar a longo prazo os espaços sem vender a alma ao diabo!
As cidades fazem-se de pessoas e não de estátuas!

Bruno Duarte Bessa

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