Tal como o encerramento de fábricas de calçado tem levado à discussão sobre o futuro desta Indústria no nosso concelho, também o encerramento de lojas de proximidade tem necessariamente de conduzir à reflexão sobre o comércio local.
A pandemia acelerou o consumo do comércio digital, que triplicou as suas vendas, mas penalizou o pequeno comerciante.
Num cenário de crise económica instalada, com a subida da inflação e perda do poder de compra, acrescida de aumento dos índices de desemprego, esta disrupção nas tendências de consumo veio acrescentar desafios ao comércio tradicional.
E à concorrência atroz das grandes superfícies, que pela escala e dimensão conseguem obter preços mais baixos, veio somar-se a contínua inclinação para a compra online, com a comodidade que isso implica.
A bolha digital não influencia apenas a nossa forma de pensar, mas também a nossa forma de consumir. Ao sermos frequentemente aliciados pela oferta de produtos de venda online, de acordo com as preferências algorítmicas, esquecemos que o comércio local tem vantagens diretas na vida, história e tradição da nossa localidade.
Lojas que passaram de pais para filhos, e/ou onde o atendimento é personalizado, o apoio a clientes é contínuo e que favorecem a criação de emprego, riqueza e dinâmica locais merecem uma especial atenção da nossa parte, mas também dos nossos governantes. Uma atenção que não passe apenas pela isenção de derrama, como qualquer pequena e média empresa beneficia, mas que reflita uma real preocupação, incentivando a procura pelo pequeno comércio, promovendo-o durante todo o ano e não só no Natal.
É premente pensar medidas que capacitem o comércio de rua, de forma a fazer frente à dispersão para os centros comerciais e para o comércio digital, durante um período particularmente difícil, evidenciando os elementos característicos que o diferenciam: o atendimento “vip”, a vizinhança e a pertença. O comércio tradicional é parte integrante do património de uma cidade, o encerramento de lojas de comércio tem um impacto direto na estrutura de um concelho, que tem de ser pensado para o futuro, com vista a conservar a sua identidade.
Deixo a sugestão de algumas medidas já implementadas noutras cidades que podem ser um verdadeiro estímulo à compra no comércio tradicional, como a isenção em estacionamento, reembolsos e descontos em serviços municipais, mediante apresentação de recibos de compra/aquisição de serviços em estabelecimentos de pequeno comércio local aderentes, ou ainda atividades de promoção de ruas comerciais com atividades decorativas e artísticas, em cooperação com instituições, ao longo de todo o ano.
Marta Rocha