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No crepúsculo dos incêndios

Sexta-feira vinte de setembro. São zero horas e quatro minutos e, segundo consta,  já chove em Vale de Cambra.

Subitamente tudo se tornou mais fresco e em vinte e quatro horas, o panorama de calor mudou..

Dos cento e vinte e sete fogos ativos, restam apenas oito. Que bom!

No entretanto, os trabalhos de rescaldo continuavam, e ao mesmo tempo, o ministro Adjunto e da Coesão Territorial já afirmava que a ajuda virá mais cedo… está a fazer-se o levantamento – disse ele!

Já tendo todos nós ouvido isto antes e  também que o Estado irá esperar pelos relatórios para apurar as falhas, proclamamos: surpreendente! Esperam-se agora efeitos rápidos, visíveis e reais!

Depois de nos terem prometido que situações como a de Pedrógão não voltariam a repetir-se, encontramo-nos novamente a viver igual tragédia, desta feita, com mais nove mortos –  quatro dos quais bombeiros!

No entanto, os problemas com que hoje nos deparamos são os mesmos que originaram, entre outras, a tragédia de Pedrógão, mas desde aí, 2017, apesar de várias decisões importantes, pouco mudou no ordenamento do território e no panorama florestal.

A ministra da Administração Interna diz que se manteve sempre informada, mas as decisões que dela se esperavam, faltaram, tardaram, ou simplesmente não chegaram!…

Os meios ao dispor, desde sempre escassos, não foram bem distribuídos e os mais de mil bombeiros envolvidos, sendo muitos, acabaram por ser crescentemente poucos para combaterem tantos e tão grandes incêndios, sendo que o presidente da Proteção Civil, ao contrário de receber louvores, que  os não merece, já deveria ter sido demitido.

Proteção Civil, que já falava em situação de calma, na hora em que no Porto e em Viseu as frentes do fogo ainda continuavam a precisar da atenção dos Bombeiros para acões de cuidado e de combate.

Ao tempo que a ajuda da Europa começava a desmobilizar, Montenegro fazia finca pé em tomada de medidas mais penalizadoras contra os incendiários – de resto bem vindas e absolutamente necessárias -, não percebendo, contudo, que os problemas reais são outros, e que no país, as ignições provocadas por mão criminosa representam um percentagem muito pequena sobre as verdadeiras causas que todos os anos dão origem à maioria dos incêndios florestais.

Pelo que, é  já dentro da época das vindimas que nos encontramos a analisar as consequências dos últimos fogos florestais, e tão só, porque desde 2017, quer pelos  anteriores, quer pelo atual governo, não se ter percebido que a floresta se encontra muito desordenada e com os solos mais degradados, e que era sua obrigação, de em tempo útil, terem adotado as medidas que há mais de duas décadas, sendo muito reclamadas continuam por implementar.

Num quadro geral em que até já temos “Cadastros Simplificados” e promessas de “Aldeias Seguras“, mas onde continua a faltar quase tudo, desde logo e desde sempre um bom Plano de Gestão da Floresta; torna-se  mais imperioso que o governo saiba apreender o essencial, estabelecendo e assumindo que as principais responsabilidades por tudo isto são suas, não fazendo e deixando de fazer crer que o problema do crescimento dos incêndios  florestais no nosso país têm mais a ver com as mãos criminosas do que com a inércia das suas políticas, quer para com a floresta em particular, quer para com o ordenamento do território em geral.

José Quintela

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