Recentemente, deparámo-nos uma vez mais com incêndios florestais de grandes dimensões, que colocaram em risco vidas, bens e negócios. A frequência desta catástrofe, tão temida e recorrente, é maior do que o desejado.
Em primeiro lugar, é essencial reconhecer o trabalho e o empenho de todos os elementos da Proteção Civil e dos Bombeiros, cujo auxílio no combate às chamas foi fundamental para evitar consequências ainda mais graves. Contudo, o sucesso no controlo dos fogos só foi possível graças à participação e envolvimento das comunidades locais. Mesmo sem os meios adequados ou experiência em combate a incêndios, muitos cidadãos enfrentaram as chamas com coragem, ajudando a conter o avanço do fogo.
Por outro lado, é urgente encetar a discussão política em torno do planeamento, gestão e antecipação deste problema. Na minha opinião, a resposta do Governo foi insuficiente, insuficiente nas medidas e insuficiente na antecipação de uma situação que, ano após ano, se repete. Deve ser salientada a total ausência da ministra que tutela a área, que se limitou, muitos dias depois, a ler um discurso escrito. Uma demonstração clara do distanciamento à realidade e ao sofrimento de todos os lesados.
Um ponto positivo e a destacar na atuação do Primeiro-Ministro foi o respeito demonstrado para com as vítimas e para com aqueles que lutavam contra os incêndios. No entanto, esse bom senso contrasta com o comportamento que teve aquando da sua visita num bote da Proteção Civil, enquanto decorriam as bascas pelo helicóptero que se despenhou no rio Douro. A imagem do Primeiro-Ministro em pleno cenário de operações evidencia uma atitude populista e a sua total falta de respeito pelas vítimas, tentando retirar um proveito e vantagem política de uma situação de perda e sofrimento.
No que diz respeito à antecipação e ao planeamento da problemática dos incêndios, cabe aos governos implementarem medidas concretas que atuem sobre a origem do problema, como a desertificação do interior e o consequente abandono dos terrenos. É fundamental também valorizar as nossas florestas, tornando-as rentáveis e sustentáveis.
Contudo, a rentabilização da floresta deve ter em conta não apenas o retorno económico, mas também a necessidade de promover uma floresta diversa, equilibrada, resiliente e sustentável. Só assim será possível mitigar o impacto dos incêndios e salvaguardar das populações, os seus bens e os nossos recursos naturais a longo prazo.
Paulo Soares