O comandante dos Bombeiros da Lixa disse esta semana ao SF Jornal que a ocorrência de fatalidades entre bombeiros, no combate aos incêndios florestais que assolaram o Norte e Centro, entre 13 e 19 de setembro, puseram a nu algumas fragilidades do sistema, acrescentando que “há melhorias que têm que ser implementadas, urgentemente”.
Num balanço provisório, a Autoridade Nacional da Proteção Civil contabilizou quatro fatalidades e dois feridos graves entre os mais de cinco mil bombeiros que estiveram no terreno, ao longo de uma semana.
“Estes problemas só são resolvidos com medidas preventivas e quando deixarmos de ter documentos meramente consultivos”
Vítor Meireles salientou que ficou patente que é preciso apostar-se mais na área da prevenção, nomeadamente aplicando e fiscalizando as medidas orientadoras que constam nos planos de defesa da floresta, entre outros documentos.
“Estes problemas só serão resolvidos com a implementação das medidas preventivas e quando deixarmos de ter documentos meramente consultivos. Temos que esforçar para que as medidas que constam nos planos de defesa da floresta sejam implementadas, atempadamente, e fiscalizadas, doa a quem doer” afirmou Vítor Meireles.
O oficial frisou que com medidas bem pensadas e executadas, o combate aos fogos florestais torna-se mais eficaz “quando são cumpridas as regras básicas de ordenamento do território.
“É nós, no terreno, não verificamos essa situação. Depois acontece o que se passou, com incêndios muito agressivos”, acrescentou.
Empenho dos operacionais evitou o pior
Apesar de combater um fogo de origem duvidosa, com três frentes e vários reacendimentos, no Seixoso, e de acorrer a mais de duas dezenas de outras ocorrências num território pautado pela proximidade de zonas florestais às zonas urbanas, nenhuma habitação ardeu, na zona de intervenção, nem se registaram vítimas.
“Não aconteceu [nada mais grave] graças ao empenho dos cerca de 60 operacionais, na sua maioria voluntários, que estiveram ao serviço, exaustos”
“Não aconteceu graças ao empenho dos cerca de 60 operacionais, na sua maioria voluntários, que estiveram ao nosso serviço, exaustos, mas sempre prontos para dar o seu melhor. São uma força incomparável, que trabalham a troco de nada, têm que ser reconhecidos”, adiantou.
O comandante deixa ainda uma palavra de apreço aos empresários que dispensaram os seus funcionários que prestam serviço nos Bombeiros da Lixa, defendendo serem precisas compensações para poder haver maior disponibilidade de voluntários.
“A resposta da população também é digna de se registar, com todo o apoio que nos proporcionou, com bens alimentares e água e mensagens de apreço pelo nosso trabalho”, acrescentou.
“É inconcebível termos zonas de atuação em vez de proximidade”
Quando questionado pelo SF sobre a proximidade da área de atuação com outras corporações, Vítor Meireles mencionou que abordou esse tema no seu discurso no sábado, dia 14, durante a celebração dos 135 anos dos Bombeiros da Lixa.
Segundo o oficial, a corporação é confrontada, diariamente, com pedidos de auxílio em localidades próximas do quartel, na Lixa, mas inseridas nas zonas de atuação de outras corporações vizinhas.
“Há quem fique desagradado por eu tocar sempre neste tema, mas é inconcebível que atuemos por áreas de atuação própria e não por proximidade. Não faz sentido em pleno século XXI estarmos a um minuto ou dois da estrada N15 e o cidadão ter que esperar por auxílio 20, 30 minutos. Sem culpa das outras corporações, obviamente, mas sim de quem gere o sistema, que tem que corrigir isto”, acrescenta.
Quartel: novo edifício ou obras de requalificação no atual?
No sábado, dia 14, os Bombeiros da Lixa assinalaram o seu 135.º aniversário com uma série de eventos e a entrega de três novas viaturas de emergência médica.
Perante o secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Simões Ribeiro, e outros dignitários, o comandante defendeu mais e melhores meios para os bombeiros portugueses, nomeadamente mais formação, um tema em que ambas a direção e comando da Lixa têm apostado, fortemente, nos últimos anos.
“Houve aqui uma grande simbiose numa aposta em dotarmos os nossos operacionais de melhores conhecimentos, daquilo do que melhor existe. Falamos de mais de 200 horas de formação, por exemplo”, explica.
Por outro lado, e em jeito de balanço, recorda que ao longo dos últimos anos, para além da formação, a corporação concentrou-se em resolver questões de equipamento, nomeadamente na substituição de viaturas e dotando os operacionais com equipamentos de proteção individual.
Passada essa fase, há agora “um novo desafio” para melhorar as suas instalações. Meireles salienta que quando o atual quartel foi construído, em finais dos anos 90 do século passado, “não existiam mulheres bombeiras”, por exemplo.
“Também não se pensou nas pessoas de mobilidade reduzida. Temos o caso de um operacional nessa situação que não se pode deslocar para uma camarata ou ao refeitório, porque só existem escadas”, explica.
Atualmente, em cima da mesa estão duas opções: por um lado, pensa-se num novo edifício, construído de raiz e numa nova localização, por outro a hipótese de requalificar o atual equipamento.
“A diferença do valor entre as duas opções não é muito significativa. Ambas têm que ser estudadas no sentido de optar por aquela solução que for mais vantajosa, para todas as entidades envolvidas. Sendo certo, contudo, que irei sempre exigir o melhor para os nossos operacionais”, conclui.