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Novo outono muito negro

Ciclicamente já vivemos tempos como este.

E quantas vezes, noutros verões, já fomos e viemos de férias ameaçados por um retorno incerto quanto ao futuro próximo de muitos postos de trabalho, na indústria do calçado, do concelho e do país.

Sabendo-se, agora, que em 2023 a produção mundial do calçado caiu seis por cento, igual a menos vinte e dois milhões de pares produzidos, é natural que o setor se sinta inquieto e que, novamente, receie um outono ainda mais negro no período do pós-férias.

E conhecendo-se já imensos sinais pouco abonatórios ao nível das encomendas para o último trimestre deste ano, no país e no concelho, receiam-se e aguardam-se ainda mais problemas, e mais graves,  em cima daqueles que temos conhecido e maiores dificuldades para manter um sem número de empresas e todos os atuais postos de trabalho, pouco importando os registos, de que, apesar disso, Portugal reforçou a sua posição global, subindo dois lugares na tabela, passando a ser o décimo oitavo maior produtor mundial.

Continuando a crescer, e sendo, desde há muitos anos a esta parte, o maior produtor de calçado mundial, a China produziu, no ano de 2023, 12,3 mil milhões de pares, representando cinquenta e cinco por cento da produção total, o que configura uma situação deveras preocupante para a Europa, mas sobretudo para Portugal e para Felgueiras, atendendo às fragilidades  estruturais da vida e da economia das nossas empresas.

Contudo, há sinais bastantes e contraditórios que nos convidam para uma reflexão mais atenta e que tenderão a ajudar-nos a perceber melhor de que faz e continuará a fazer todo o sentido permanecer dentro da luta da atual sobrevivência, acreditando sempre num futuro melhor para a indústria do calçado, quer à escala do  concelho, quer do país. Vejamos:

No ano em que a produção mundial registou uma queda de 22 milhões de pares, Portugal tornou-se o 18º  maior produtor do mundo, tendo exportado 66 milhões de pares no valor de mil novecentos e oitenta e oito milhões de dólares, correspondendo, assim, a 1,2% das exportações mundiais.

Num quadro global de contração dos maiores mercados mundiais, onde os EUA, a China e a Europa compraram menos mil e quinhentos milhões de pares, além deste registo explicitar quase tudo o que se passa às escalas globais, também servirá para se nos mostrar como um desenho ou apenas um sinal de futuro imediato para a industria do calçado, onde ainda não haverá  prosperidade de curto ou de médio prazo, mas, onde, e também, continuará a valer a pena fazer finca pé, deitando mão em todas as armas possíveis para defender o setor, porque o mesmo continuará a ter futuro, não obstante os malefícios que ora se registam e  que no curto/médio prazo irão continuar a verificar-se.

Com efeito, sendo esperado um outono muito negro para o setor do calçado nos âmbitos concelhio e nacional, o que importará é que não venha a ser mais do que isso, e que na próxima primavera não se repita o que aconteceu na deste ano, onde a atividade produtiva apenas serviu para manter centenas de  postos de trabalho, em contraponto com as crescentes regressões ao nível do crescimento da riqueza das empresas.

Por conseguinte, se aos outonos negros que temos conhecido já só se espera um novo e ainda mais negro outono, sabendo também quase todos nós de que ciclicamente foi tantas vezes sempre assim, será muito importante continuar a contar com a resiliência dos nossos empresários, principalmente daqueles que nunca desistem, para que, cerrando mais uma vez fileiras, não deixem que nada de pior aconteça à nossa indústria do calçado.

E porque para pior já tem bastado tudo quanto a mesma tem conhecido, o melhor será descomprimir e partir para férias despidos de quaisquer receios ou pressões antecipados, para quando regressarmos à vida local, enfrentarmos a realidade vigente, onde, hoje como ontem, a indústria do calçado continuará a ser essencial para o emprego e para a riqueza das pessoas, e outrossim, se contar com administrações sociais terrenas mais atentas e mais capazes, para um continuado e mais próspero desenvolvimento do concelho.

José Quintela

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