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Rancho do Faial mostrou em Felgueiras um retrato da cultura tradicional açoriana

O Grupo de Etnografia e Folclore AJA Baile, da ilha do Faial, nos Açores, foi o convidado de honra do Festival de Folclore realizado no âmbito das Festas de São Pedro, no domingo, dia 30 de junho. O mais jovem grupo folclórico açoriano esteve em Felgueiras, a convite do Rancho Folclórico de Macieira da Lixa, para demonstrar algum do trabalho etnográfico que tem realizado ao longo dos últimos 12 anos.
Em declarações ao SF, a diretora Ana Carlos explicou que desde a sua fundação, o AJA Baile determinou como missão principal estudar e representar um baile típico a cada uma das nove ilhas do arquipélago dos Açores.
“Até à data, ensaiamos sete modas. Atualmente trabalhamos numa oitava, referente à Terceira, que esperamos poder mostrar na Semana do Mar, a maior festa do Faial. A seguir, começaremos a trabalhar no último que nos falta, referente à Graciosa”, explicou.
A dirigente associativa destacou, ainda, a receção calorosa que recebeu em Felgueiras, salientando a visita às ruínas romanas de Sendim como uma experiência única.
“Não temos ruínas romanas nos Açores, só conhecemos da televisão. Ver em pessoa, é uma realidade diferente”, salientou.

Uma representação do trabalho na terra e no mar

Com 30 elementos, o grupo abrange uma faixa etária transversal à sociedade, desde crianças de sete anos até membros com mais de 80 anos. Os trajes, em si, são uma verdadeira relíquia, representando a vida quotidiana dos Açores entre o século XIX e XX, realçando o trabalho no campo e no mar.
“Por exemplo, em São Jorge, há um traje de mulher com duas saias: uma para abrigar do sol e da chuva, e outra para o trabalho. No Faial, o capote original, feito em tear, é uma peça icónica. Já no Pico, as albardas feitas de pele de animal substituíam os sapatos”, explica a diretora.
Ana Carlos acrescentou, ainda, que há uma longa lista de espera nestas peças da indumentária, dado que existem poucas fábricas, nos Açores, que possam realizar este tipo de trabalho.

Viola da Terra: símbolo de saudade e intercâmbio cultural

Na secção instrumental deste grupo destaca-se a “viola da terra”, um instrumento semelhante à viola amarantina, mas que possui características únicas que a tornam especial para os açorianos, nomeadamente o adorno de dois corações, símbolo que reflete a “experiência da imigração”, explicou Ana Carlos.
“Um coração representa aquele que parte, deixando a terra natal em busca de novos horizontes. O outro coração pertence àquele que fica, sentindo a saudade profunda da separação”, acrescenta.
Na parte inferior da viola há também desenhos que, quando virados ao contrário, formam uma coroa do Espírito Santo, símbolo “muito enraizado na nossa cultura”, acrescenta.
Em termos de atividades, adiantou que ao longo do ano participam em cerca de 10 espetáculos e que a visita a Felgueiras é o terceiro périplo pelo continente.
“Apoios à viagem entre continente e ilhas devia ser recíproco” — Bessa Carvalho do Rancho Folclórico de Macieira da Lixa
A diretora abordou, igualmente, o tema dos apoios à cultura, revelando que recebe um subsídio anual da Câmara da Horta e que realiza, pontualmente, vários eventos de angariação de fundos.
Questionada sobre as deslocações ao continente, Ana Carlos salientou que o Governo Regional dos Açores subsidia estas viagens, bem como à Região Autónoma da Madeira, a todos os habitantes dos Açores.
“O valor máximo que pagamos, do nosso bolso, é de 134 euros por pessoa, o que ajuda nestas deslocações. Infelizmente, o inverso não se aplica aos ranchos que nos visitam”, acrescentou.
Sobre este tema, o presidente do Rancho Folclórico de Macieira da Lixa explicou que este é o motivo por que poucos ranchos portugueses entram em acordos de reciprocidade com as regiões autónomas, porque não podem cumprir com os acordos de permuta, devido ao preço das deslocações aéreas.
O problema agrava-se, ainda, porque as companhias aéreas evitam, a todo o custo, fazer marcações em grupo, devido ao “overbooking”.
“Infelizmente, a cultura é, aqui, o parente pobre. Devia haver um programa similar ao do IPDJ que se aplica em determinados desportos federados, por exemplo”, adiantou Bessa Carvalho.
O dirigente associativo defende a criação de um modelo de subsídio de viagem definido pelo Ministério da Cultura em lugar da condição de utilidade pública dos grupos culturais do continente, sobretudo, bem como dos acordos de reciprocidade e condições de permuta.
“É uma questão de enriquecimento cultural, em que ambos os grupos podem entrar em contacto com novas realidades de uma forma que seria impossível de fazer como turistas. Se um grupo local faz uma divulgação turística e cultural da região, não merecia ser mais acarinhado?”, conclui.

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