Em Portugal, o conceito de “cunha” é tão antigo quanto a própria nação.
Este fenómeno, que envolve o uso de favores e influências para obter benefícios pessoais, é uma prática que transcende gerações e regimes políticos. Desde a queda da monarquia até ao regime democrático atual, as “cunhas” mantêm-se como uma sombra persistente sobre a nossa sociedade.
As comissões parlamentares desempenham um papel crucial na nossa democracia. São elas que, muitas vezes, trazem à luz os abusos cometidos, como foi o caso das investigações ao BPN e ao império Espírito Santo, TAP, entre outros.
Estas comissões são fundamentais para a transparência e para garantir que o dinheiro dos contribuintes é utilizado de forma justa e legal. No entanto, não são apenas os grandes escândalos financeiros que merecem escrutínio.
Casos aparentemente menores, como o tratamento de 4 milhões de euros gasto pelo Serviço Nacional de Saúde com duas gémeas luso-brasileiras, também necessitam de investigação para assegurar que não houve atropelos da lei ou favorecimentos indevidos.
No contexto português, a “cunha” tornou-se numa espécie de instituição milenar que resistiu às mudanças de regime e continua a florescer. Este fenómeno é muitas vezes justificado pela crença de que, num Estado que deveria tratar todos os cidadãos de forma igual, na prática, alguns são mais iguais do que outros. Esta lógica perversa mina a confiança nas instituições e perpetua um ciclo de favoritismo e injustiça.
O que temos observado nos últimos tempos e é do conhecimento geral, (imagine-se o que ainda não se sabe), deveria envergonhar todos os cidadãos e contribuintes em Portugal. É lamentável observar o que é tratado, às escondidas, por indivíduos sem escrúpulos que menosprezam até as altas instituições do Estado.
O Parlamento tem um papel crucial neste cenário. Deve ser implacável com os fortes e poderosos que abusam do sistema, garantindo que a lei é aplicada de forma equitativa e que os direitos dos cidadãos são respeitados. Ao mesmo tempo, deve ter a sensibilidade para proteger os mais fracos, assegurando que as suas vozes são ouvidas e que as suas necessidades são atendidas.
A investigação de “cunhas” e tráfico de influências deve ser uma prioridade. Apenas mediante um escrutínio rigoroso e uma aplicação justa da lei poderemos construir uma sociedade onde a igualdade de oportunidades seja uma realidade e não apenas uma promessa vazia.
Este é um desafio que exige coragem e determinação, mas é essencial para o fortalecimento da nossa democracia e para a construção de um futuro justo para todos.
“Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.”
-Edmund Burke-
Por Portugal
Pelos portugueses
Jorge Miguel Neves