A livre manifestação do pensamento foi uma conquista. Antes dela, só alguns podiam emitir livremente a sua opinião, enquanto outros eram votados à censura. E a História ensinou-nos umas coisas sobre os corolários da censura.
Numa clara demarcação de postura em relação ao anterior Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco optou por não hostilizar a bancada do Chega, permitindo que livremente dissessem o que defendem.
E, se por um lado há um milhão de portugueses que não se revê na classe política tradicional, o mesmo milhão elegeu o que mais parece ser uma claque de “bullies”. Não só os eleitos do Chega têm direito ao discurso livre, mas sobretudo os eleitores têm o direito de ouvir quem elegeram.
A reflexão que se impõe: Quem somos nós, para constranger a liberdade de expressão do outro? Ainda que o outro seja um obtuso, as suas opiniões, mesmo que enviesadas ou malformadas, não podem ser mitigadas, senão pelo risco da violação efetiva de direitos alheios. A velha máxima que me ensinaram em criança de que: a nossa liberdade termina, onde começa a do outro.
Sobre a violação dos direitos liberdades e garantias, sobre as irregularidades e ilegalidades, os tribunais haverão de se pronunciar.
Mas sobre a falta de padrões morais na política, cabe-nos a nós tirar as devidas ilações e fazer um ponto de ordem, dizer que tanto a vitimização, como a falta de respeito são o fim do argumento.
Quando o debate de ideias dá lugar ao bate-boca, ao sacudir a água do capote, ou a culpar os intervenientes do passado, sem vestígios de cultura democrática, num manifesto desmerecimento das opiniões divergentes, isto é censura e propaganda subliminar e a consequência é a perda de credibilidade.
Porque este comportamento é um claro sinal de que já não é a razão, nem os ideais que os movem, mas a avidez de se manterem no controlo das decisões, vulgarmente conhecida como sede de poder.
Marta Rocha