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Ser, ter e parecer

Se, no anterior texto que aqui escrevi, tive oportunidade de defender que me parecia que os Portugueses são um povo muito pouco exigente, estou, agora, preparado para subscrever exatamente o oposto.
De facto, aquelas minhas palavras, como tantas outras, foram irrefletidas e injustas. Isso mesmo ficou, para mim, demonstrado depois de ter lido uma notícia sobre uma crónica publicada num jornal nacional de alguém que, num laivo de estupidez, decidiu sugerir que duas apresentadoras de televisão, por uma questão de audiência, deveriam ser mais magras ou fazer mais ginásio.
Sobre esse comentário, creio que perder mais tempo do que aquele que é preciso para deixar uma nota de repúdio e lamento é perder tempo demais. O óbvio da ignomínia não o merece.
No entanto, deste triste episódio, além de se poder concluir que há ainda muito por fazer pela defesa da igualdade e dos direitos da Mulher, penso que podemos também parar para refletir sobre aquilo que, nos dias de hoje, exigimos uns dos outros, como critério de, vamos dizer assim, “validação social”.
A minha avó sempre me ensinou que, antigamente, para se ser alguém na vida, o mais importante era Sermos pessoas com valores e bens formados – e, se a vida o permitisse, não descurar os estudos era algo que nos aportaria. Ser era o que nos distinguia e, portanto, era nisso que investíamos. Por exemplo, era ponto de ordem que um aperto de mão valia muito mais que um papel escrito.
Entretanto, fui-me apercebendo que quem Tinha passou a ter destaque. O elogio sobrava para quem, partindo do zero ou muito à frente na largada, conseguia Ter. Naturalmente que, para esses, deve haver um louvor pela capacidade, pelo conquistado. Mas o ponto é que entre a “chico espertice” de um esquema ou o suor de muito trabalho, entre alguém com um espírito mais ou menos solidário ou com maior ou menor compaixão, o Ter passou a ser o primeiro critério.
Hoje, olhando ao tanto que se faz por uns “gostos” nas redes sociais, à importância que reconhecemos e retiramos dessa magna aprovação, estou convencido que Ser e/ou Ter já não é suficiente: temos também, e principalmente, de Parecer.
Como toda a gente “sabe”, se não está nas redes sociais, não aconteceu, se não há fotografia, não é verdade, se a fotografia mostra um braço flácido, é melhor não postar. Hoje, nem a mulher de César escapava a uma crónica de jornal.

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